O nome do filme original proposto por Sofia Copola não foi em vão, faz realmente nos sentirmos perdidos na tradução. Na tradução entre o inglês e o japonês e na tradução entre o mundo e cada um de nós como parte desse todo. O sentimento de inadequação e desapego. É um filme de pequenos gestos. Fotografa imagens belas e por vezes desconcertantes de seus personagens. É lento como uma respiração de quem vê a vida passar deitada em confortáveis camas de hotéis com vistas maravilhosas para a agitação de longe da cidade de Tóquio. Com letreiros grande luminosos, barulhos de carros e muitos eletrônicos. Há no filme bastante claro um fenômeno da deslocação cultural e sentimental também. Momentos engraçados e melancólicos. Adjetivos tão opostos quanto poderia ser os dois atores do filme se não fosse o sentimento que identificação que ambos sentiam um pelo outro, Charlote e Bob Harris, esta identificação tão bem traduzida pela palavra empatia.
O filme é lindo, é cheio e é vazio ao mesmo tempo e acredito que desconfortável para algumas pessoas. A tradução do título para o português em Encontros e Desencontros, também caiu muito bem, pois na verdade é como diz a frase na capa do filme: “Everyone wants to be found!” e todo mundo deseja se encontrar, esse filme marcou realmente como um encontro, há densencontros amorosos, mas há outras formas de encontro também, o encontro consigo mesmo, o encontro de amizade e o de empatia que para mim foi muito forte e significante no decorrer da história. Me parece terem esquecido de dar a Charlotte e Bob um dicionário que os ajude a compreender esse idioma estranho com que o mundo e a sociedade lhes falam.
A melancolia de Charlotte, relegada sempre como um segundo plano pelo marido e a incerteza do que o futuro a reserva. O vazio está tão impregnado nos silêncios e nos olhares que é difícil não repararmos nele. A relação entre Charlotte e Harris bastante é bastante verossímil, mesmo com a diferença de idade entre os dois. O que na minha opnião é um quê à mais que Sofia nos traz, as diferenças reencontradas em tantas semelhanças, na identificação de um momento, o elemento que os une, a nacionalidade, o idioma comum, a estranheza do contexto, serve de ajuda a essa busca de um sentido que, naquela semana, parece resumir a preocupação de toda uma vida. E assistimos à construção, em pequenos detalhes, de um amor que é identificação, compreensão, aceitação. Um sentimento que não precisa de tradução. E como completa a voz de Brian Ferry, no momento mais emotivo do filme: “More than this, there is nothing…”.
E como sempre exímia memorizadora de diálogos de filmes, destaco um dos vários que para mim é tocante:
“ I Just don’t know what I’m supposed to be” - Charlotte.
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