segunda-feira, 23 de janeiro de 2012

Requiém para um sonho


- O que você tomou?
- Eu tomei meu vestido vermelho...

Pablo Picasso foi tão exato em suas obras primas quanto Darren Aronofsky em seus últimos filmes: Cisne Negro e Requiém para um sonho. Este último, não somente se contentando em produzir um interessante trabalho de câmera e filmagem, Darren introduz no meio do contexto de drogas e loucura temas dos mais diversos, que vão de críticas à sistemas de atendimento médico, alienação em massa dos meios de comunicação até a degradação da sociedade. O filme situa-se no limite do insuportável e por isso é bom. Claramente, é um filme de vícios, da putrefação do sonho americano e dos sonhos de cada um, mas pouco a pouco se demonstra um universo pesado de pensamentos, não sendo recomendável para mentes preguiçosas ou que somente querem um pouco de diversão passageira. É cinema agressivo, diferente, reflexivo. É uma uma verdadeira overdose! É um mundo que se desaponta consigo mesmo. É uma sociedade em estágio de degradação, enquanto ela própria se estraga. São vícios, são neuroses, são estampas e rótulos impostos, são fontes rápidas de auto-estima passageira, que deterioram indivíduos, mas que eles continuam a consumir, a receber e aceitar, enquanto tudo se apodrece.

A forma como ele monta as cenas de utilização das drogas, seja Harry e sua turma, ou Sara com suas pílulas é genial. Há um jogo interessante de imagens, por vezes, apenas ilustrativas, que dão a dimensão do esforço repetitivo. Outro momento bem realizado é quando Sara vai fazer sua primeira refeição de regime, antes das pílulas. Mostra o prato com três ingredientes, uma fruta, um ovo e uma xícara de café. Em vez de mostrá-la comendo, mostra o objeto inteiro, depois com um efeito, apenas a casca ou xícara vazia, em seguida a expressão de Sara frustrada. Isso nos dá a exata sensação de não saciamento. Outro recurso interessante é dividir a tela entre Harry e Marion na cama, aproximando-os e ao mesmo tempo separando-os em dois espaços.
O final da obra, é o primor da construção, em seu auge poético, retrata todos os personagens em posição fetal, em suas camas, como se fossem criaturas prontas para nascerem de novo, terem uma nova chance: há esperança de melhoras.  Realista, utiliza de poesia para nos mostrar uma verdade incômoda e altamente destrutiva.


É inevitável, após o filme, não sair com peso nas costas ou sensações pesadas, devido à experiência devastadora montada. É um retrato extremamente realista, cru e impecável de uma sociedade que degrada a si mesma. Como vimos ano passado nos diversos meios de comunicação, a morte de Amy Winehouse que foi uma inestimável perda, musical e cultural. A considero um dos melhores talentos dos últimos anos. E não posso deixar de citar também a perda de várias outras Saras Godfarbs que gostariam de caber ainda em um vestido vermelho, ou em programa de tv, ou em uma das melhores posições sociais entre as amigas, entre muitos outros que se perderam no crime, se entregaram ao narcotráfico ou prostituiram-se em troca de um sonho, um vicio, uma loja de roupas...

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