segunda-feira, 30 de janeiro de 2012
Durante toda minha infância, eu dizia "não" mesmo quando queria dizer "sim". Usava o não como uma palavra de apoio, uma maneira de começar a falar. Minha mãe: "Vou sair para fazer compras; algo que você gostaria para o jantar?". Eu, enérgico: "Não", acrescentando imediatamente: "Sim, estou a fim de ovos fritos ou sei lá o quê". Os adultos tentavam me corrigir: "Então, é sim ou não?". "Não, é sim", eu respondia. Entendi esse meu hábito muito mais tarde, quando li "O Não e o Sim", de René Spitz (ed. Martins Fontes). No fim da faculdade, Spitz era um dos meusautores preferidos, o único, ao meu ver, que conciliava a psicanálisecom o estudo experimental do desenvolvimento infantil. No livro, pequeno e crucial, Spitz nota que, nas crianças, o uso do "não" aparecepor volta do décimo oitavo mês de vida, logo quando elas costumam falarde si na terceira pessoa, como se precisassem (e conseguissem, enfim) se enxergar como seres distintos dos outros. Para Spitz, a aquisiçãoda capacidade de dizer "não" é um grande evento da primeira época davida: a conquista da primeira palavra que serve para dialogar e não sópara designar um objeto. Mas, cuidado, especialmente no segundo ano devida, o "não" teimoso da criança não significa que ela discorde do queestá lhe sendo proposto ou imposto: a criança diz "não" para afirmarque, mesmo ao concordar ou obedecer, ela está exercendo sua própriavontade, a qual não se confunde com a do adulto.
Em suma, durante muito tempo, eu persisti na atitude de meus dois anos. Mais tarde,consegui me corrigir. Mas em termos; sobrou-me uma paixão pelas adversativas: mal consigo dizer "sim" sem acrescentar um "mas" que limita meu consentimento. É um jeito de dizer que aceito, mas minha aceitação não é incondicional. "Vamos ao cinema?". "Sim, mas à noite, não agora." O uso do sim e do não, no discurso de cada um de nós, pode ser um indicador psicológico valioso. Mas, para isso, é preciso distinguir entre "sim" e "não" "objetivos", que têm a ver com a questão da qual se trata (quero ou não tomar café ou votar nas próximas eleições), e "sim"e "não" "subjetivos", que são abstratos, ou seja, que expressam uma disposição de quem fala, quase sem levar em conta o que está sendo negado ou afirmado. Se o "não" subjetivo é um grito de independência, o "sim" subjetivo é uma covardia, consiste em concordar para evitar os inconvenientes de uma negativa que aborreceria nosso interlocutor.
Alguns exemplos desse "sim" covarde (e, em geral,objetivamente mentiroso). "Respondeu à minha carta?" "Sim, já mandei.""Gostou de minha performance?" "Sim, adorei." "Quer me ver de novo?""Sim, te ligo amanhã." Mas também: "Você vai assinar a petição para expulsar os judeus do ensino público?" "Claro, claro, estou assinando."
Acontece que dizer "não" é arriscado. A confusão com o outro, aquela confusãoque ameaça a primeira infância e contra a qual se erguia nosso "não"abstrato e rebelde, é substituída, com o passar do tempo, por mil dependências afetivas: "Desde os meus dois anos, não sou você, não meconfundo com você, existo separadamente, mas, se eu perder seu amor (sua amizade, sua simpatia, sua benevolência), quem reconhecerá que existo? Será que posso existir sem a aprovação dos outros?". Em suma, o sim subjetivo é um consentimento abstrato (o objeto de consensoé indiferente e pode ser monstruoso), pois o que importa é agradar ao outro, não perder sua consideração. A necessidade narcisista de sermos amados nos torna covardes e nos leva a assentir.
Por sua vez, nossa covardia fomenta explosões negativas, tanto maisviolentas quanto mais nossa concordância foi preguiçosa. À força dedizer "sim" para que o outro goste de mim, eu corro o perigo de meperder e, de repente, posso apelar à negação abstrata, espalhafatosa eviolenta, só para mostrar que não me confundo com o outro, penso com aminha cabeça.
Bom, Spitz tinha razão, o uso do não e do sim permitemo diálogo humano. Mas é um diálogo que (sejamos otimistas) nem sempre tem a ver com as questões que estão sendo discutidas; ele tem mais aver com uma necessidade subjetiva: digo "não" para me separar do outro ou digo "sim" para obter dele um olhar agradecido. Nos dois casos, tento apenas alimentar a ilusão de que existo.
quarta-feira, 25 de janeiro de 2012
segunda-feira, 23 de janeiro de 2012
Requiém para um sonho
- O que você tomou?
- Eu tomei meu vestido vermelho...
Pablo Picasso foi tão exato em suas obras primas quanto Darren Aronofsky em seus últimos filmes: Cisne Negro e Requiém para um sonho. Este último, não somente se contentando em produzir um interessante trabalho de câmera e filmagem, Darren introduz no meio do contexto de drogas e loucura temas dos mais diversos, que vão de críticas à sistemas de atendimento médico, alienação em massa dos meios de comunicação até a degradação da sociedade. O filme situa-se no limite do insuportável e por isso é bom. Claramente, é um filme de vícios, da putrefação do sonho americano e dos sonhos de cada um, mas pouco a pouco se demonstra um universo pesado de pensamentos, não sendo recomendável para mentes preguiçosas ou que somente querem um pouco de diversão passageira. É cinema agressivo, diferente, reflexivo. É uma uma verdadeira overdose! É um mundo que se desaponta consigo mesmo. É uma sociedade em estágio de degradação, enquanto ela própria se estraga. São vícios, são neuroses, são estampas e rótulos impostos, são fontes rápidas de auto-estima passageira, que deterioram indivíduos, mas que eles continuam a consumir, a receber e aceitar, enquanto tudo se apodrece.
A forma como ele monta as cenas de utilização das drogas, seja Harry e sua turma, ou Sara com suas pílulas é genial. Há um jogo interessante de imagens, por vezes, apenas ilustrativas, que dão a dimensão do esforço repetitivo. Outro momento bem realizado é quando Sara vai fazer sua primeira refeição de regime, antes das pílulas. Mostra o prato com três ingredientes, uma fruta, um ovo e uma xícara de café. Em vez de mostrá-la comendo, mostra o objeto inteiro, depois com um efeito, apenas a casca ou xícara vazia, em seguida a expressão de Sara frustrada. Isso nos dá a exata sensação de não saciamento. Outro recurso interessante é dividir a tela entre Harry e Marion na cama, aproximando-os e ao mesmo tempo separando-os em dois espaços.
O final da obra, é o primor da construção, em seu auge poético, retrata todos os personagens em posição fetal, em suas camas, como se fossem criaturas prontas para nascerem de novo, terem uma nova chance: há esperança de melhoras. Realista, utiliza de poesia para nos mostrar uma verdade incômoda e altamente destrutiva.
É inevitável, após o filme, não sair com peso nas costas ou sensações pesadas, devido à experiência devastadora montada. É um retrato extremamente realista, cru e impecável de uma sociedade que degrada a si mesma. Como vimos ano passado nos diversos meios de comunicação, a morte de Amy Winehouse que foi uma inestimável perda, musical e cultural. A considero um dos melhores talentos dos últimos anos. E não posso deixar de citar também a perda de várias outras Saras Godfarbs que gostariam de caber ainda em um vestido vermelho, ou em programa de tv, ou em uma das melhores posições sociais entre as amigas, entre muitos outros que se perderam no crime, se entregaram ao narcotráfico ou prostituiram-se em troca de um sonho, um vicio, uma loja de roupas...
segunda-feira, 16 de janeiro de 2012
Navegando aqui pela internet fazendo nada com a minha vida, procurando sinônimos e antônimos da palavra Felicidade, encontrei em um blog, uma playlist para palavra felicidade...e para mais um monte de outras coisas também. Bolei de rir...Muito criativo, lembrei de um filme que ele indicou onde o rapaizinho faz uma trilha sonora para os dias em que a mocinha está "naqueles dias" e uma das músicas era: sunday bloody sunday..rsrsrs. Busquei aqui mas meu hd de memória nao permitiu lembrar o nome do filme com o Ashton Kutcher.
A trilha sonora é plena felicidade:
PlayList
Fama, USP e Falar com Cachorros 13:08 PCSiqueira
Felicidade 4:13 Marcelo Jeneci Feito Pra Acabar
A Felicidade 4:30 Antônio Carlos Jobim Antonio Carlos Jobim And Friends
Zelia Duncan - Toda Vez 4:24 Zélia Duncan Torre De Babel Nacional
Felicidade (Gente Di Mare) 3:25 Fábio Jr. Mais De 20 E Poucos Anos
Shiny Happy People 3:52 R.E.M. Out Of Time
Sea 3:45 Jorge Drexler Sea
...Adorei e indico: o BoucheVille que é namorada do Carpinejar blog que eu já frequentei outras vezes e também acho muuito interessante!
domingo, 15 de janeiro de 2012
quinta-feira, 12 de janeiro de 2012
Wuthering Heights

A música também foi bastante marcante, cantada por Kate Bush e tão antiga quanto o sucesso do filme. Mas tem também uma regravação feito pelo André Matos do Angra que ficou muito legal, também é antiga, mas é mais recente que a de Kate Bush e ficou tão linda quanto, digo, na minha opnião. Aqui segue o link de um trecho do filme com a música.
Esta foi uma tentativa de lançar no ar cansado, leve pluma de memórias de um tempo intenso e enriquecedor da minha vida.
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