Hoje, 21 de Agosto, completam 23 anos que Raulzito partiu. Eu estava exatamente com apenas dois aninhos de vida, não sabia nem o que se passava a minha volta, era apenas um pedacinho de vida quando esse astro de energia chamado Raul Santos Seixas partia e deixava um legado, um mundo questionável e uma ironia em seus protestos em um tom que só ele , Maluco beleza, sabia usar. Em 28 de Junho nascia em Salvador, Bahia sob o signo de cancer esse canceriano sem lar. Logo que decifrou o mistério das letras Raul devorava os livros da biblioteca pessoal de seu pai. as histórias que lia na biblioteca fermentavam sua imaginação e com os cadernos do colégio, fazia desenhos, criava personagens, enredos, para depois vender ao irmão quatro anos mais novo, Plínio, que acabava ficando interessado e comprava os esboços. Segundo Raul, um dos personagens principais dessas histórias era um cientista maluco chamado "Mêlo" algo como "amalucado", que viajava para diversos lugares imáginarios como o Nada, o Tudo, Vírgula Xis Ao Cubo, Oceanos de Cores. Segundo Raul, Melô era sua "outra parte, a que buscava as respostas, o eu fantástico, viajando fora da lógica em uma maquinazinha em que só cabia um só passageiro... Melô-eu." Plínio ficava horas ouvindo o irmão contar suas histórias, dentro do quarto dos dois, e Raul frequentemente encenava os personagens como um ator.
O Raul seria meu ideal de projeção masculina, subversivo e inteligente como a maioria de meus ídolos, Raul ou melhor o profeta, anunciava em canções coisas que vieram a acontecer anos mais tarde. Raul era mais que humano, era como algo realmente cósmico, idealizado, Raul tinha sacadas, ironias e uma energia capaz de mover oceanos " Abre-te Sésamo".
Raul assim como meus outros amados rockeiros, amava literatura, filosofia e psicologia mas odiavam a escola. A escola para Raul era como uma prisão. Uma das frases proferidas por ele e marcantes de minha adolescencia era: "Eu era um fracasso na escola. A escola não me dizia nada do que eu queria saber. Tudo o que aprendia era nos livros, em casa ou na rua. Repeti cinco vezes a segunda série do ginásio. Nunca aprendi nada na escola. Minto. Aprendi a odiá-la". Eis me aqui mais uma de minhas identificações. O padrão do modelo de ensino das escolas continua retrógrado. Apesar de eu sempre ter conseguido me incluir no sistema, e me esforçado durante anos da minha vida para alcançar os 3 primeiros lugares na escola, mantendo minha foto no corredor do colégio como forma de gratidão à meus esforçados pais, mas questionar nunca deixei. Afinal foram eles que incultiram isto à minha personalidade. Ora mais, como não questionar, uma criança que aos 7 anos de idade escutava Rock do Diabo, Rock da aranhas...poisé e como já tenho mencionado em posts anteriores agradeco a educação cultural e musical que tive. Cresci ouvindo beatles, rolling stones e rockixe de raul. Minha mãe mais do que meu pai era assumidissima Tropicália, do estilo que usava batinhas hippies e só falava no tal do Caetano, papai chegou até à comprar o ingresso do show de Raulzito aqui no Paulo Sarasate não lembro o ano, segundo eles naquela epoca eu era apenas uma idéia distante de existência humana rsrs Eu repito comprou o ingresso e compareceu mas o Raulzito é que já não ia muito bem e de fato também apenas compareceu ao palco mas cantar que era bom nada! E meu pai contava essas histórias, do publico raivoso, do quebra quebra no ginásio e a da confusão provocada pelo querido Raul que já estava seus ultimos anos de vida.
Raul Seixas se envolveu com ocultismo e estudou filosofia e psicologia, o que fez um dos pouco compositores a tentar imprimir suas idéias em letras aliadas ao som vibrante do Rock, juntamente com ritmos nordestinos. Aliado a seu grande amigo da época Paulo Coelho, criou a Sociedade Alternativa "Cidade das Estrelas", um conceito de sociedade livre, fascinado por seus estudos esotéricos e inspirada no ocultista filósofo Aleister Crowley , foi tema de uma de suas canções do disco "Gita". Mas que foi por água baixo por ser considerado um projeto subversivo demais para o governo militar e foi nesta época que Raul seixas passou por algumas torturas e conheceu o exílio.
"Ninguém aqui quer chegar a uma verdade absoluta e impô-la. Apenas se quer abrir as portas. Para as verdades individuais."
Em seus shows e em meio as canções Raul gritava "Faça o que tu queres há de ser tudo lei" instigava a plateia que ia ao delirio com aquelas propostas de liberdade na atitude. E em meio aos anos 80 Raul conseguiu produzir ainda bons sons como Metrô linha 743, anos 80 e Panela do Diabo. Em sua carreira foi pioneiro na mistura de todo tipo de influência musical ao rock and roll, passeando e acrescentado com desenvoltura e sem preconceitos ritmos nordestinos como por exemplo, Aventuras de Raul Seixas na Cidade de Thor, folk ao estilo Bob Dylan em Ouro de Tolo, tem também muita influência brega como exemplo Sessão das 10 e até umbanda e indiana como Mosca na Sopa. Em suas letras abordava com igual desenvoltura temas tão díspares quanto sentimentos humanos, críticas ao sistema, esoterismo e agnosticismo. A sua mensagem muitas vezes está implícita em letras que podem ser taxadas de bobas pelos menos perspicazes, vide a letra de Carimbador Maluco e em outros momentos é pura poesia como em Canção Para Minha Morte.
E nas mensagens
Que nos chegam sem parar
Ninguém pode notar
Estão muito ocupados
Prá pensar...
Que nos chegam sem parar
Ninguém pode notar
Estão muito ocupados
Prá pensar...
Oh! Oh! Oh! Seu Moço!
Do Disco Voador
Me leve com você
Prá onde você for
Oh! Oh! Oh! Seu Moço!
Mas não me deixe aqui
Enquanto eu sei que tem
Tanta estrela por ai
Do Disco Voador
Me leve com você
Prá onde você for
Oh! Oh! Oh! Seu Moço!
Mas não me deixe aqui
Enquanto eu sei que tem
Tanta estrela por ai
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