terça-feira, 6 de novembro de 2012

Crenças - Ser senhor de si mesmo


Como pregar a liberdade do homem, se a minha está escravizada às crenças que me dominam? Como defender a libertação dos oprimidos na condição de oprimido pela própria convicção?
O impasse dos políticos e pensadores ocidentais reside nisso: eles não se fazem senhores das próprias idéias e pensamentos: escravizam-se, acabam se transformando em seus servidores.
Perdem, assim, a dimensão reflexiva, a única capaz de transcender o próprio pensamento, a única capaz de se pensar pensando e surpreender as próprias servidões.
Mas o que é ser senhor das próprias idéias? Parece-me que consiste na capacidade de considerar tudo que se pensa, e todos os nossos juízos de valor (julgamentos), dentro de uma ótica relativa, dentro de uma forma de pensar que é própria, inelutavelmente peculiar a cada pessoa em particular.
Assim, em vez de se impor aos demais, a nossa forma de pensar, de ver e sentir o mundo deve ser oferecida à reflexão alheia, não como absoluta ou a única correta, e sim como contribuição para a interpretação do real.
Ser senhor das próprias idéias, pensamentos e convicções é aceitar a dimensão poli-ótica no lugar da dimensão mono-ótica, a que explica o mundo através de uma só visão, negando as demais.
Ora, a realidade é múltipla, complexa, plural, sempre maior do que a nossa capacidade de compreendê-la.
Ser senhor do próprio pensamento é ser capaz de vincular as convicções, não apenas a idéias puras, mas ao ser real de cada pessoa.
De ajustar o que se pensa ao que se é, em vez do tão freqüente e doentio processo de procurar ser apenas aquilo que pensa, aquilo que considera o certo, aquilo que os outros e não a própria pessoa, disseram ser o caminho.
E não é. Há um caminho para cada um.

Autor: Artur da Távola
 

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