domingo, 6 de maio de 2012

Heidegger para finalizar o domingo...

Heidegger divide a existência em três "estruturas existenciais": afetividade, fala e entendimento. São três fenômenos existenciais que caracterizam como as coisas do passado, do presente e do futuro se manifestem para o homem e a unidade desses três fenômenos constitui a estrutura temporal que faz a existência inteligível, compreensível..

1) a afetividade: as coisas do passado chegam ao homem como valores, afetando-lhe os sentimentos, que podem ser públicos, compartilhados, e transmissíveis.
2) a fala: no presente, as coisas se traduzem em palavras da linguagem na articulação dos seus significados
3) o entendimento: as coisas do futuro, onde o projeto que define o homem encontrará a morte, são as coisas não garantidas, que lhe são devolvidas para gerar nele o sentimento de que não está em casa neste mundo, mesmo estando entre as coisas que lhe são mais familiares.
Portanto, no homem, o ser está relacionado ao tempo e está dado, existe, nestes três fenômenos, nestes três "níveis existenciais". Porém...
A alienação.
O homem está fora das coisas, diz Heidegger em "O ser e o tempo", nunca sendo completamente absorvido por elas, mas não obstante não sendo nada, à parte delas. O homem vive, até o fim, em um mundo no qual ele foi jogado. Sendo algo jogado em meio às coisas, estando-lá, constitui algo à parte mas está no ponto de ser submergido nas coisas. É continuamente um projeto; mas ocasionalmente, ou mesmo normalmente, pode ser submergido nas coisas a tal ponto que é absorvido nelas temporariamente. O homem encobre aqueles condicionantes existenciais, aquilo que ele de fato é, entregando-se a uma rotina de superficialidades "públicas" na vida cotidiana. Não é então ninguém em particular; e uma estrutura que Heidegger chama das Man ("o eles ") é revelada, como uma tendência da alienação de si mesmo que leva o homem à tendência de se conhecer apenas através da comparação que faz de si mesmo com os outros indivíduos seus pares.
A angústia.
Mas uma coisa pode acontecer que desperta o homem dessa alienação, a angústia. Ela resulta da falta de base da existência humana. A "existência" é uma suspensão temporária entre o nascimento e a morte. O projeto de vida do homem tem origem no seu passado (em suas experiências) e continuam para o futuro, o qual o homem não pode controlar e onde esse projeto será sempre incompleto, limitado pela morte que não pode evitar.
A angústia funciona para revelar o ser autêntico, e a liberdade como uma potencialidade. Ela enseja o homem a escolher a si mesmo e governar a si mesmo.
Na angústia, a relevância do tempo, da finitude da existência humana, é experimentada então como uma liberdade para encontrar-se com sua própria morte, um "estar preparado para" e um contínuo "estar relacionado com" sua própria morte. Na angústia, todas as coisas, todas as entidades, em que o homem estava mergulhado se afastam, afundando em um "nada e em nenhum lugar," e o homem então em meio às coisas paira isolado, e em nenhuma parte se acha em casa. Enfrenta o vazio e toda a "rotinidade" desaparece  e isto é bom, uma vez que então encontra a potencialidade de ser de modo autêntico.
Assim, a angustia "sóbria" e a confrontação implicada com morte são para Heidegger primeiramente ferramentas, têm importância metodológica: certos fundamentos são revelados. A ansiedade abre o homem para o ser. Entre as estruturas reveladas estão as potencialidades do homem para ser alegremente ativo (".. conhecer a alegria é uma porta para o eterno"). Isto não quer dizer que o Ser participa do lado negro do desespero, da angústia; o Ser é associado com a " luz " e com " a alegria ". Pensar o ser é chegar ao verdadeiro lar.
Por isso, dos existenciais, Heidegger privilegia o futuro, porque é esta projeção para o advir e o golpe da devolução no embate com a morte que lá está que o leva a pensar e à autoconscientização.
O homem pode então introduzir esse conhecimento existencial no projeto de sua vida, e assim se apropriar da existência fazendo-a efetivamente sua, tornando-se autêntico, não mais um ente sem raízes.  Essa visão existencial do homem, em que ele se conscientiza das estruturas existenciais a que está condicionado e que o tira da superficialidade em que desenvolve seus conflitos tornou-se sedutora para a psiquiatria e psicologia, surgindo ai proeminentes uma escola de terapeutas existencialistas...

Filosofia Contemporânea - Brasília - 2001

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