Heidegger divide a existência em três "estruturas existenciais": afetividade,
fala e entendimento. São três fenômenos existenciais que caracterizam como as
coisas do passado, do presente e do futuro se manifestem para o homem e a
unidade desses três fenômenos constitui a estrutura temporal que faz a
existência inteligível, compreensível..
1) a afetividade: as coisas do passado chegam ao homem
como valores, afetando-lhe os sentimentos, que podem ser públicos,
compartilhados, e transmissíveis.
2) a fala: no presente, as coisas se traduzem em
palavras da linguagem na articulação dos seus significados
3) o entendimento: as coisas do futuro, onde o projeto
que define o homem encontrará a morte, são as coisas não garantidas, que lhe são
devolvidas para gerar nele o sentimento de que não está em casa neste mundo,
mesmo estando entre as coisas que lhe são mais familiares.
Portanto, no homem, o ser está relacionado ao tempo e está
dado, existe, nestes três fenômenos, nestes três "níveis existenciais".
Porém...
O homem está fora das
coisas, diz Heidegger em "O ser e o tempo", nunca sendo completamente absorvido
por elas, mas não obstante não sendo nada, à parte delas. O homem vive, até o
fim, em um mundo no qual ele foi jogado. Sendo algo jogado em meio às coisas,
estando-lá, constitui algo à parte mas está no ponto de ser
submergido nas coisas. É continuamente um projeto; mas
ocasionalmente, ou mesmo normalmente, pode ser submergido nas coisas a tal ponto
que é absorvido nelas temporariamente. O homem encobre aqueles
condicionantes existenciais, aquilo que ele de fato é, entregando-se a uma
rotina de superficialidades "públicas" na vida cotidiana. Não é então ninguém em
particular; e uma estrutura que Heidegger chama das Man ("o eles ") é
revelada, como uma tendência da alienação de si mesmo que leva o homem à
tendência de se conhecer apenas através da comparação que faz de si mesmo com os
outros indivíduos seus pares.
Mas uma coisa pode
acontecer que desperta o homem dessa alienação, a angústia. Ela
resulta da falta de base da existência humana. A "existência" é uma suspensão
temporária entre o nascimento e a morte. O projeto de vida do homem tem origem no
seu passado (em suas experiências) e continuam para o futuro, o qual o homem não
pode controlar e onde esse projeto será sempre incompleto, limitado pela morte
que não pode evitar.
A angústia funciona para revelar o ser autêntico, e a liberdade como uma potencialidade. Ela enseja o homem a escolher a si
mesmo e governar a si mesmo.
Na angústia, a relevância do tempo, da finitude da existência
humana, é experimentada então como uma liberdade para encontrar-se com sua
própria morte, um "estar preparado para" e um
contínuo "estar relacionado com" sua própria morte. Na
angústia, todas as coisas, todas as entidades, em que o homem
estava mergulhado se afastam, afundando em um "nada e em nenhum lugar," e o
homem então em meio às coisas paira isolado, e em nenhuma parte se acha em casa. Enfrenta o vazio e toda a "rotinidade" desaparece e isto é bom, uma vez que então
encontra a potencialidade de ser de modo autêntico.
Assim, a angustia "sóbria" e a confrontação
implicada com morte são para Heidegger primeiramente ferramentas, têm
importância metodológica: certos fundamentos são revelados. A ansiedade abre o
homem para o ser. Entre as estruturas reveladas estão as potencialidades do homem
para ser alegremente ativo (".. conhecer a alegria é uma porta para o eterno"). Isto não quer dizer que o Ser
participa do lado negro do desespero, da angústia; o Ser é associado com a " luz
" e com " a alegria ". Pensar o ser é chegar ao
verdadeiro lar.
Por isso, dos existenciais, Heidegger privilegia o futuro,
porque é esta projeção para o advir e o golpe da devolução no embate com a morte
que lá está que o leva a pensar e à autoconscientização.
O homem pode então introduzir esse conhecimento existencial no
projeto de sua vida, e assim se apropriar da existência fazendo-a efetivamente
sua, tornando-se autêntico, não mais um ente sem raízes. Essa visão existencial do homem, em que ele se conscientiza das
estruturas existenciais a que está condicionado e que o tira da superficialidade
em que desenvolve seus conflitos tornou-se sedutora para a psiquiatria e psicologia, surgindo
ai proeminentes uma escola de terapeutas existencialistas...
Filosofia Contemporânea - Brasília - 2001
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