domingo, 30 de outubro de 2011

Produção de novos olhares...

Hoje quero falar sobre o povo brasileiro e o acesso às redes de saúde mental. Os estudos e pesquisas na área mostram que 70% da população utilizam-se desse serviço, que cresce cada vez mais, população de classe média alta, mas onde estão os suportes para as demais demandas da população, as de classes "inferiores" justamente as que mais necessitam de assistência, apoio e proteção.  A tendência para a psicologia clínica individual cresce e até quando iremos alimentar esse "ego" ao invés de nos importarmos em construir uma etica da convivência livres de valores da ética burguesa?

Frente à esse modelo de sociedade que valoriza o consumo, resistir à "niente", não sucumbir é tarefa difícil, antes na senzala, hoje na periferia do mundo. Estou falando da nossa necessidade de produzir epistemologias, onde tenhamos energia para construir sabendo o que fazer e como, indepente da situação. E não falo só de psicólogos, isso aplica-se à todos os setores envolvidos nos cuidados de saúde básica, fisioterapeutas, médicos, dentistas, assistentes sociais, profissionais que saibam trabalhar integrados, num universo em comunhão dos saberes, da interdisciplinaridade. É preciso um repensar que se ancore na libertação (ação, ato de conquista). O modelo de indivíduo não é o que modelo com  o qual convivemos. quando mais precisamos de uma percepção apurada da realidade mais somos empurrados à sobrevivência.

É muito fácil olharmos as manchetes dos jornais e apontarmos criminosos, atirar-lhes palavrões, xingamentos, "filho da puta, vagabundo, roubou meu relógio" mas se estivermos integrados e inseridos e responsabilizados por isso também, não estariamos fazendo nossas criticas de morais burguesas ao comentar por exemplo um roubo, ou até mesmo assassinato. Qual o valor que esta pessoa que comete o crime dará ao próximo, se ele mesmo não tem o seu valor? E é foda admitir isso, mas somos nós que produzimos.

Nós estamos inseridos num pragmatismo e numa funcionalidade alienados dos outros, vivemos em muros, grades, nos isolamos cada vez mais dentro de nós mesmos, por medo do outro, alienados até de nós mesmos.

Os indivíduos estão escancarados na nossa frente e nós não temos como abracá-lo, prevení-lo e cuidá-lo. Como a filósofa Silvia Lane diz, "precisamos sair de nossas torres de marfins", se há uma prevenção da comunidade, do povo, há uma distanciamento, diminuição das patologias da nossa sociedade, o sofrimento existencial é porta, passagem para o transtorno. Falo de escuta, de olhares, de cuidar, escutar nu e cru o indíviduo e também não somente a escuta dele dentro da nossa teoria, nada somos quando também compactuamos das mesmas dores.

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